Romário detona Dilma e Copa em jornal inglês
Ex-jogador da seleção brasileira e atual deputado federal, Romário mais
uma vez usou seu tom crítico para falar sobre a Copa do Mundo no país...
Ex-jogador da seleção brasileira e atual deputado federal, Romário
mais uma vez usou seu tom crítico para falar sobre a Copa do Mundo no
país. Em um artigo escrito para o jornal inglês "The Guardian"
intitulado "Este mega evento pode aprofundar os problemas do Brasil, o
"Baixinho" detonou a presidenta Dilma Rouseff e a Fifa.
"A Fifa
anuncia que terá um lucro de R$ 4 bilhões com a Copa no Brasil, livre de
impostos. Esse contraste de lucro fácil contrasta com a total ausência
de legados efetivos, como os da mobilidade urbana. A presidenta Dilma
Rousseff repete o ex-presidente Lula, afirmando que realizaremos "a
melhor Copa de todos os tempos". Não creio, pois falhamos no item
básico, o de deixar à população um legado que orgulhasse a todos nós.
Até aqui, só a FIFA está lucrando e é por isso, também, que a população
vai às ruas para protestar, com razão", escreveu Romário.
No
último final de semana, Romário rebateu uma crítica de Ronaldo, que deu a
entender que seu ex-companheiro de seleção brasileira estava "batendo"
na Copa do Mundo para se promover.
Romário se defendeu com uma
carta diretamente a Ronaldo: "Uma coisa que você não deve saber, é que
uma das funções de deputado é fiscalizar, além da CBF, entidades como a
que você faz parte, o Comitê Organizador Local (COL). E ninguém pode
dizer que não tenho feito isso", disse o "Baixinho".
Veja abaixo o artigo de Romário na íntegra:
Pentacampeão
mundial, o Brasil esportivo sempre cultivou o senso comum de que o
futebol alienava a população dos problemas sociais. Mas, ironicamente, é
a preparação do País para receber a Copa do Mundo que acaba mobilizando
brasileiros. Levantando a bandeira sem cor partidária, a população pede
o fim da corrupção e do desperdício do dinheiro público,
lamentavelmente tão comum em nosso Brasil. Mas os jovens ignoraram o
forte apelo do futebol no congraçamento de povos e nações e passaram a
promover pacíficas passeatas nas capitais.
Em momento oportuno,
essas fortes manifestações populares ocorrem em plena Copa das
Confederações, reforçando o ambiente democrático que vivemos. É da rua
que vem o apelo para o fortalecimento do Judiciário, por exemplo. Com
legislação frágil, é comum se prorrogar o cumprimento das decisões da
Suprema Corte, contribuindo para o avanço da corrupção e impunidade dos
ladrões do dinheiro público.
Como deputado de primeiro mandato e
já em meu terceiro ano legislativo, sinto-me à vontade para criticar,
porque há bom tempo me manifesto contra algumas barbaridades que por
aqui ocorrem.
Estive com o governo federal quando o Brasil
conquistou a sede da Copa do Mundo. Naquele momento, os dirigentes do
país e nossa realidade política e econômica eram outras. As projeções
para que o Mundial fosse um instrumento eficaz para geração de empregos e
renda, promoção do turismo e fortalecimento da imagem do Brasil
incentivaram-me a apoiar a proposta para receber a Copa.
Como
campeão do mundo, tenho a dimensão do gigantismo e do poder desse evento
para as cidades-sedes, em geral. Porém, fomos atingidos, também, pelas
turbulências da economia mundial, aqui repercutindo na necessidade de o
governo redimensionar sua política de gastos e investimentos, mas sem
prejudicar a liberação de recursos para a Copa, mantendo os compromissos
firmados com a poderosa FIFA.
Assim, a preparação das cidades
para a Copa do Mundo passou a ter prioridade sobre outras necessidades
da população. Os financiamentos foram direcionados para obras do
futebol, em detrimento da saúde, da educação e da segurança,
principalmente. A falta de investimentos na educação, por exemplo,
contribuiu para que crescesse o número de pessoas sem ocupação,
repercutindo, lamentavelmente, em desocupados que foram para as ruas,
aumentando a insegurança nas principais capitais do país.
Em
muitas cidades, a situação das instalações escolares é deplorável, sem
condições mínimas para que ali se processe um aprendizado adequado pelos
jovens. Os professores da rede pública, por sua vez, são muito mal
remunerados. A desmotivação desses profissionais repercute no desempenho
de suas funções e o resultado dessa falta de prioridades para o setor é
que o Brasil figura em penúltimo lugar no índice de qualidade da
educação, num ranking de 39 países, segundo a empresa Pearson. Pior: um a
cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no abandona a escola
antes de completar a última série, segundo Relatório de Desenvolvimento
2012 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU).
Na
área da saúde a situação é grave e preocupante. São comuns os casos de
doentes que recorrem aos hospitais públicos e têm seus problemas
agravados pela falta de profissionais e até medicamentos para os
primeiros socorros. Seguidamente, a imprensa registra mortes de
pacientes em longas filas de hospitais, sem que ele tenha o atendimento
inicial. Quem responde por essa irresponsabilidade criminosa?
Os
problemas na educação, saúde e segurança vêm de governos anteriores,
colocando o país em situação de vulnerabilidade social, apesar do
fortalecimento dos índices de nossa economia. O país está entre as 10
maiores potências mundiais, mas como entender esse honroso ranking
diante de necessidades extremas da população, com prejuízos sociais
evidentes?
É nesse contexto que o Brasil se prepara para 2014. Não
creio que a Copa resolva todos os nossos problemas, mas, como tenho
dito, há um grande risco de que esse megaevento aprofunde os que já
temos.
Ainda no governo do então presidente Lula da Silva, a
proposta era termos um evento com participação maciça da iniciativa
privada e transparência nos gastos públicos. Ocorreu exatamente o
contrário. De um orçamento inicial de R$ 25,5 bilhões para estádios,
mobilidade urbana, melhorias em portos e aeroportos, temos, hoje,
investimentos de R$ 28 bilhões, segundo o secretário-executivo do
Ministério do Esporte, Luiz Fernandes. Mas, na minha avaliação, este
orçamento ainda pode aumentar muito.
Por que estamos organizando a
mais cara das últimas Copas, sem os legados comunitários prometidos? A
Copa no Brasil já está custando espetaculares R$ 28 bilhões de
financiamentos e investimentos públicos, quase três vezes o aplicado na
Alemanha, em 2006, e no Japão, em 2002. E o que dizer da África do Sul,
que gastou quatro vezes menos do que o Brasil, R$ 7,1 bilhões? Além
disso, os gastos de todas as cidades sedes foram além do previsto na
reforma ou construção dos seus estádios. Em Brasília, capital da
República, o Tribunal de Contas do Distrito Federal identificou o
pagamento de serviços em dobro e até de serviços não realizados. Além
disso, do orçamento inicial de R$ 650 milhões, o estádio de Brasília já
consumiu R$ 1,2 bilhão, praticamente o dobro do previsto inicialmente.
Quanto
às obras de mobilidade urbana para melhorar o tráfego nas cidades sede a
situação é caótica. Dos 82 empreendimentos previstos, 25 não cumpriram o
cronograma e apenas três mantêm orçamentos atualizados e prazos em dia.
Se forem concluídas, estas reformas representarão apenas 5% do que
estava previsto. Uma vergonha para o governo e ótimos motivos para a
população protestar, com razão.
São números como esses que nos
deixam indignados e contribuem para que apoiemos as manifestações
populares, a fim de inverter a lógica desse sistema que privilegia o
capital em detrimento do social. Não será para no estádio de futebol que
os brasileiros buscarão a cura para suas doenças. E já não encontram
socorro nos hospitais públicos, pois esse sistema está falido e precisa
de uma reação enérgica do governo, sob pena de fragilizar a autoridade
institucional.
Enquanto isso, a FIFA anuncia que terá um lucro de
R$ 4 bilhões com a Copa no Brasil, livre de impostos. Esse contraste de
lucro fácil contrasta com a total ausência de legados efetivos, como os
da mobilidade urbana. A presidenta Dilma Rousseff repete o ex-presidente
Lula, afirmando que realizaremos "a melhor Copa de todos os tempos".
Não creio, pois falhamos no item básico, o de deixar à população um
legado que orgulhasse a todos nós. Até aqui, só a FIFA está lucrando e é
por isso, também, que a população vai às ruas para protestar, com
razão.(Fonte:http://esportes.br.msn.com)
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